Confesso, querida, que me calei.
Esperei silenciar o que gritava, e minha alma secou no peito.
E por isso, repito, que confesso:
Confesso, acordo pensando em seu sorriso sincero.
Confiro se não chegou uma mensagem nova em meu celular.
Encontro as antigas, e esqueço de escovar os dentes.
Confesso, vejo fotos suas com olhar de joalheiro.
Ando decorando semblantes, traços e expressões.
Coisas lapidadas que cintilam e me fazem pensar raridade.
Confesso, tudo teu parece vir em pares.
E seu abraço, o melhor do mundo, tem um gosto próprio:
Uma música que acompanha, uma ideia que completa.
Confesso, de tão grande, esse afeto me assusta.
Como bicho acoado, contemplo assustado de dentro da toca
esse som estrondoso, esse convite singelo, isso que não entendo.
Mas confesso, mesmo temendo, destrancarei as velhas portas.
Abrirei janelas dos quartos vazios.
Voltarei a regar jardins abandonados.
Pois confesso: o que aprendi a fazer sozinho, querida,
como bicho assustado, joalheiro atarefado ou sonhando desperto,
só parece ter graça quando a tua graça está aqui por perto.
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