Ele tossiu quatro vezes longe da minha vista. Resmungou alguma coisa por dois segundos, e voltou ao seu lugar na fila com três passos. Tinha um metro e oitenta e um cheiro ocre, não forte, de suor. Seus poucos cabelos estavam presos numa tiara velha e amarela. Segurava meio hotdog e perguntou se aquele último ônibus não saía as 00h35. Os olhos grandes, levemente úmidos e jovens, contrariavam a voz afeminada que dizia já ter vivido muitos anos e tido mais de algumas experiências desagradáveis. Questionou gerações como fazem os velhos, enquanto torcia os dez dedos grossos uns contra os outros, e por três vezes, de forma bem lúcida, disse que na vida não possuía pares ou coletivos: ele era só um.
Torres altas, fardos pesados, estradas longas e amores intensos.
Para todas as coisas damos medidas: o kilo, o metro, o volt, o minuto. Existe quantidade até daquilo que não se vê, mas se compara: a culpa, a liberdade, a certeza. O peso da espera.
Medimos para que saibamos separar o muito do pouco, o bom do ruim; para que entendamos o excesso e a miséria.
Mas como se medir uma vida? Quanto pesa o amor, mesmo quando não existe? Quanto fere a solidão? Qual é a velocidade da surpresa quando retorna de uma curva do inesperado? Qual unidade se usa para medir uma alma cansada? Quantos metros um conselho sábio pode te fazer andar?
Qual o tamanho de quem você ama?
A existência medida em altura, circunferência, peso ou densidade, sempre esconderá o ser real. E a ideia, por ser invisível e simples, não cai em nossas tabuadas escolares nem em nossa interpretação científica e tangível: Somos da mesma matéria do universo. Tudo é infinito.
Se vivêssemos como infinitos, sorriríamos só uma vez e sempre para a oportunidade que temos de não ser falta ou exagero, mas completos.
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