3.1.12

Ainda faltam palavras.

Eu queria encontrar palavras que curam.
Elas comporiam a frase de maneira mestral, e com um sucesso quase arcano, mudariam a realidade conforme o contexto do que se diz.
Mas palavras assim não existem.
Existem palavras que ferem, palavras que destroem, palavras que acalmam, palavras que ordenam, palavras que enganam, palavras que prometem. Só não existem palavras que concertam.
Se existissem, eu as diria assim, calmamente, e veria pousar na rede a paz feito passarinho. E eu pousaria a cabeça no colchão feito astronauta. Soletraria todo dia quando na soleira de casa pusesse o pé, e não bastando, a cantaria na rua alto como numa conversa empolgada.
Queria dizer "desculpa", "perdão", "eu sei", "por favor", "eu também", "sabia que", e ao dizer, mudaria o coração do sujeito oculto. Criaria um texto perfeito. Saberia controlar meu coração.
Eu queria construir castelos de letras. Empilhar prosas e erguer um reino. Cansado de adjetivos uniformes, verbos inflexíveis, pronomes impessoais, queria uma palavra que defina, domine e salve. Eu queria dizer o que amor queria dizer.
Mas não existem palavras que curem.

3 comentários:

  1. vivenciei há pouco, bem nitidamente, esse fato. palavras não consertam. por mais belas que sejam, nenhuma delas pode fechar o buraco que a morte de um amigo deixa. a única coisa que pode AJUDAR a consertar, é o tempo. e a única Palavra que trás algum conforto é Cristo (por mais crente-piegas que isso possa parecer, é verdade pra mim).

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  2. Cristo é verbo, e diviniza uma frase, né?
    Mas como Deus autônomo, ele sempre cumpre o papel que quer, não o que queremos. Acho isso frustrante, mas justo.
    É verdade que Ele consola. Mas só quando quer consolar. Às vezes, simplesmente espera, porque sabe que deixar a dor lá talvez seja a melhor lição.

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  3. Tig... suas palavras sempre sopram cura sobre meu coração... Esse texto vai pro mural no meu quarto. Obrigada por palavrear!

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