12.4.11
O pequeno Atlas
Dissera a sí mesmo que não iria chorar, que isso era parte do processo, e que seria maduro o suficiente para suportar o peso. O peso do mundo.
Tinham escolhido o garoto para ser o responsável por manter o planeta, aquele gigantesco globo, pairando no espaço. Era robusto, de ombros largos, e duro o suficiente para sustenta-lo por séculos. Mas tinha medo. Mesmo agora era um garoto, e sua dureza era uma forma de compensar uma alma líquida e volúvel, que agora vazava de terror.
"Eu não vou chorar", repetia novamente, relembrando as palavras do guardião que o deixara responsável pelo mundo, com todas suas estações e colheitas:
-Tudo deve ser feito com perfeição, meu pequeno titã. Enquanto circunda o Sol, deves girar o planeta no eixo correto, sem mais nem menos. Um pequeno deslize, mesmo o mais milimétrico, pode acabar com milhares de vidas. E a culpa cairá só sobre seus ombros, mesmo que já estejam cansados. Você é o responsável pela nossa vida e felicidade, você é nosso ser criado para nos trazer alegria.
E quando não mais suportou, sentiu suas mãos deslizarem, e a culpa o acertou no peito, levando ao chão de vergonha, temendo ver o estrago que causara. Cobriu o rosto e achou que estava escondido do medo que sentia dos guardiões e artifices. Costruíram para ser grande, e agora havia falhado, derrotado a esperança de todas as expectativas.
Ergueu os olhos com acusações ecoando em sua mente: vozes amadas, vozes conhecidas, gritando que era um genocida, um imprestável, um homem odiável. Esperou ver o mundo em pedaços, rios de sangue, cadáveres de crianças e o fim de todas as coisas delicadas, mas se surpreendeu. O mundo pairava em seu eixo, rodando e girando livre, como se nunca houvesse sido tocado.
Sentou-se e chorou, finalmente. Suas lágrimas dilapidaram o rosto, as virtudes, o caráter duro, como a água que se choca contra as pedras. Estava livre.
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