13.5.12

Trançando mortalhas

A gente tenta descobrir qual é o segredo da vida.
Porque seu próprio conceito nos foge, na verdade. A gente tenta, o tempo todo, transcender a morte (seja lá qual sentido queira dar a essa, também). A felicidade, o sucesso, os sonhos; tudo isso faz parte da trama de fantasia que criamos, todas tentativas de descoberta, o fim do segredo que falamos, afim de desvendar o silencio do espirito. A vitoria sobre a grande incógnita do fim.
Mas essa busca é dolorosa, pois, quanto maior seu apego pelo que acredita ser capaz de te fazer transcender, tão maior serão suas frustrações ao descobrir que essas fantasias são impossíveis de controlar. A vida (ou seja lá o nome que você der a essa idéia de consecutivos fatos incontroláveis) costuma, numa ironia fina, te tirar das mãos aquilo que você mais deseja no ultimo instante, deixando no paladar da alma apenas a sugestão do aroma doce do sonho nunca provado. A vida costuma nos negar as alegrias que buscamos, como uma velha freira amargurada no internato da existência. Mas, ainda assim, é bela e breve.
Imagino nossas almas nessa tarefa de trançar, lentamente, nossa própria mortalha. Algumas são de padrões belos e sóbrios. Outras, coloridas e cheias de formas extravagantes. Mas ainda existem as confusas, apenas remendos de outras tantas mortalhas que foram desfiadas e tricotadas novamente, com cores desarmonizadas, cheias de costuras e buracos. Essas mal cabem no corpo que cobrem, no fim da linha.
É quando propomos tantas coisas, afirmando com tanta certeza, lutando nossas pequenas batalhas com tanta violência, agredindo, mordendo e matando por um assento livre no ônibus, por um beijo amoroso de um amante fiel, por um brinquedo de papel solto no ar; tentando viver de maneira tão pesada o que, de outra forma, seria tão singelo, que eu acho que perdemos o fio da meada.

http://tinysong.com/129ec

Nenhum comentário:

Postar um comentário