As dores são indiscutíveis. Todos as sentem.
Há quem diga ser bobagem, que as almas podem ser restauradas, e encontram curas rápidas. Direto ao ponto, como Neosaldina acabando com dores de cabeça.
Há quem as esconda, num movimento egoísta de camuflar o medo que a possibilidade de parecer fraco o causa. Como quem esconde um câncer de quem ama, para preservar a pessoa do desgaste, mas descobre que mais desgastante foi ter ido longe demais. Acredite, conheço histórias assim. Uma suposta força que acaba em derrota, e em lágrimas.
A dor está presente no coração de todo ser que ama, pois é resultado da vulnerabilidade de quem aceita escancarar a alma para outros. De quem se põe a risco.
Conheci um rapaz que, mesmo acabando de sair da adolescência, é maduro, rico, bem sucedido e admirado por seus talentos notáveis. Ele anda com carro próprio e está para se casar em menos de um ano. Ao falar sobre qualquer assunto é firme e decidido: espanta moradores de rua com um comando duro de voz quando chegam perto de sua mesa de bar, sabe trilhar com sabedoria todas as regras sociais que exigem os relacionamentos; mas se torna quebradiço e sem convicções quando fala que sua noiva mal o vê uma vez por mês. Ele desconfia que o comportamento seja indecisão, eu desconfio que ela o esteja usando por status. De qualquer forma, a dor está aí.
Tenho uma amiga cansada de ser enganada. Promessas não compridas e pessoas covardes são rotinas recorrentes em seu coração ferido, de forma que está prometendo a sí mesma que não pode ser feliz, já que a culpa só é dela. A dor está lá.
A dor está no pai de família que levanta cedo para trabalhar com um coração pesado, em algum serviço infame, engolindo a angústia e a impressão de que nunca poderá crescer pois tem que alimentar uma família, a quem ama.
A dor está nos olhos que não marejam porque devem parecer fortes diante daqueles que o julgam. A fraqueza será imputada por fracasso, e da humilhaçao se seguirá o abandono, sinônimo de desamor.
Cada alma com que cruzamos na rua está encharcada de dores, mas em cada esquina se vende um elixir mágico com a cura instantânea. E se abrigando sobre aríetes de certeza, nos afastamos da verdade que nada nos pode curar. De que não precisamos ser curados. Não precisamos de paleativos para a saudade infinita que nossa alma sente pelo que é eterno e perfeito.
Quando buscamos uma outra alma quebrada para amar afim de curar essa dor verdadeira, queremos amar o que é eterno, e assim, tornar-nos sãos. Mas nenhuma alma igualmente ferida é sadia.
Quando nos enchemos com confortos e prazeres, nossa sede se torna cada vez maior por mais conforto e mais prazeres, porque, por mais que eles sejam deliciosos, uma hora, cessam. Queremos prazeres eternos, que não existem, nesse mundo escasso e limitado.
Ao olharmos para nossos deuses feitos de gesso e de discursos humanos, em que há a promessa de cura para todos nossos problemas, nos apegamos a uma fé obsessiva que acaba juntamente com o gesso despedaçado e com a eloquencia gaguejante do homem que se depara com o que não poderia prever. São discursos vagos e finitos, ao contrário de todas nossas perguntas eternas.
Nossa alma foi feita para andar de mãos dadas com a criatura mais bela do universo, na alvorada eterna de todas as coisas. Não é à toa que ela não é facilmente impressionável.
Com o risco de parecer presunçoso, proponho uma nova idéia, mas que é antiga, datada do começo de tudo: Aceitemo-nos quebrados, fracos, sujos e falhos. Não precisamos de mais homens supostamente fortes. Não precisamos de tantas certezas. Não precisamos que nos ensinem tantas verdades.
Without you I was broken, but I'd rather be broken down with you by my side
Broken - Jack Jhonson
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