22.9.10
A morada das nuvens
Existe uma estrada onde toda alma chega, algum dia. É uma parte seca e vazia do mundo, no meio de uma terra ruim de plantar o que quer que se plante. Lá, pássaros não cantam, não existem doninhas nem raposas cruzando o caminho. Você não verá a chuva ou carros de passagem, frutas em arbustos ou fontes que jorram água. Nem apanhará raios de sol dourados, pois lá é a morada das nuvens.
No meio dessa estrada há uma bifurcação. É onde acontecem as despedidas. Até lá caminham, de mãos dadas, conhecidos e colegas (porque o preço do tempo é a partida), nossas convicções e certezas (pois a mudança de espaço exige mudança de mente), amigos, inimigos, amantes e amores. Para lá caminham todas as almas que se arrastam sob esse lugar cinza e abafado, cheirando a suor e cansaço.
Essa bifurcação nos divide, e o pensamento nos sobrecarrega de culpa, por saber que parte do que somos deve partir e nunca mais voltar.
E é diante dessa bifurcação que chegamos. Ao fim de uma longa e seca estrada, é chegada a hora da escolha: Tornar-nos maduros. É necessário aprender o que ouvir, com quem repartir, a quem dar valor. É necessário aprender a viver. A fantasia não sustenta o sonho concreto, e tudo o que é temporão deve pegar o caminho até o buraco do vazio. É necessário deixar que o mais fácil, o mais covarde e o mais frágil morram soterrados pelo peso do alicerce da responsabilidade. Que essa parte de nós, mesquinha e ignorante(e mesmo assim doce), vá embora, pois o caminho estreito não aceita acompanhantes. A vitória não aceita divisão em sua glória.
As mãos se soltam lentamente com um sentimento de pesar. Não há despedidas. O nosso mais frágil caminha para o fim, e a estrada agora se ergue à nossa frente, ameaçadora. Não mais nossa, quero dizer, porque já não estamos: simplesmente está. O homem crescido está sozinho para caminhar, passo a passo, para seu próprio futuro, que dessa vez não será construído em conjunto, mas por só um par de mãos. "Senhor dos meus passos", sorrí ao murmurar, e apesar da dor da partida, sabe que será bem melhor até a próxima bifurcação, onde a estrada há de se dividir novamente e mais escolhas serão feitas, e mais um pouco dele morrerá, até a perfeição.
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