16.5.12

A oração do super-herói

Deus, dê-me o poder de um super herói; desses que a gente não vê na tela nem na HQ. Não preciso correr mais rápido que um cometa ou erguer com os braços tanques de guerra. Quero fazer a maravilha de sofrer metamorfose. Quero me erguer todo dia de um leito de morte, onde deixo um pouco da casca do casulo, e daí criar asas na mente, até que um dia, voe.
Deus, torne-me indestrutível, para que eu não 
me destrua. Dê-me tal poder para derrotar meu arqui inimigo, o eu, e assim salvar o mundo; o que você me deu. Me faz acordar todo dia maior, mais claro e mais forte, brilhanto mais intenso que a dor que ontem senti.
Dai-me o poder do contágio, Pai. Para que a metamorfose se siga numa corrente de liberdade e bem querer. Faça minha força um prodígio, um milagre, para que eu salve a cidade das almas que amo e lute contra o crime de meu próprio caráter quebrado.
E que por esse poder Você transforme, em igual intensidade, o ódio em gentileza, a impaciência em mansidão, o egoísmo em bondade, a amargura em docilidade, e por fim, a morte em vida. Então não terei mais identidades secretas.
Chamarei Homem-Luz para Você.

13.5.12

Trançando mortalhas

A gente tenta descobrir qual é o segredo da vida.
Porque seu próprio conceito nos foge, na verdade. A gente tenta, o tempo todo, transcender a morte (seja lá qual sentido queira dar a essa, também). A felicidade, o sucesso, os sonhos; tudo isso faz parte da trama de fantasia que criamos, todas tentativas de descoberta, o fim do segredo que falamos, afim de desvendar o silencio do espirito. A vitoria sobre a grande incógnita do fim.
Mas essa busca é dolorosa, pois, quanto maior seu apego pelo que acredita ser capaz de te fazer transcender, tão maior serão suas frustrações ao descobrir que essas fantasias são impossíveis de controlar. A vida (ou seja lá o nome que você der a essa idéia de consecutivos fatos incontroláveis) costuma, numa ironia fina, te tirar das mãos aquilo que você mais deseja no ultimo instante, deixando no paladar da alma apenas a sugestão do aroma doce do sonho nunca provado. A vida costuma nos negar as alegrias que buscamos, como uma velha freira amargurada no internato da existência. Mas, ainda assim, é bela e breve.
Imagino nossas almas nessa tarefa de trançar, lentamente, nossa própria mortalha. Algumas são de padrões belos e sóbrios. Outras, coloridas e cheias de formas extravagantes. Mas ainda existem as confusas, apenas remendos de outras tantas mortalhas que foram desfiadas e tricotadas novamente, com cores desarmonizadas, cheias de costuras e buracos. Essas mal cabem no corpo que cobrem, no fim da linha.
É quando propomos tantas coisas, afirmando com tanta certeza, lutando nossas pequenas batalhas com tanta violência, agredindo, mordendo e matando por um assento livre no ônibus, por um beijo amoroso de um amante fiel, por um brinquedo de papel solto no ar; tentando viver de maneira tão pesada o que, de outra forma, seria tão singelo, que eu acho que perdemos o fio da meada.

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