31.8.10

Microconto

Ele sabia que era como pular pra morte, e por não conhecer o timing do para-quedas, se esborrachou no chão sem desfazer o sorriso.

Paradoxo

A gente nunca vai ser bom o suficiente.
Você acha que por dar aquela esmola gorda ao pedinte malcheiroso na rua, está se tornando quase um mártir da bondade do mundo, mas, no fundo, tem a certeza que isso é muito pequeno, muito pouco para aquela pessoa.
Você quer ser o amigo perfeito, sempre atento, sempre disposto, sempre amável. Mas um dia acorda irritado, e sem querer uma grosseria aleatória é disparada contra aquela pessoa que você realmente ama, e ela nunca mais fala contigo.
Ao se esmerar em ser alguém que possa ser amado, engraçado, carinhoso e verdadeiro, e ao ter seu amor negado, sua ira inflama por julgar ter direito sobre esse bem conquistado por todo caráter e bondade que demonstrou no processo.
Se você vence medos e traumas para se aproximar daqueles por quem se sente inspirado ou apaixonado, pensa que o pior já passou. Mas a aleatoriedade da vida, com seus infinitos processos ínfimos e incontroláveis, te passa a perna.
E esse é o choro dos vitoriosos derrotados.
Se não existe explicação para a dor que te ocorre, nem motivo para o sofrimento que passa, sorria e agradeça, porque assim foi com todos os bons que te sucederam. E um dia, quem sabe, ao fazer as coisas da pior forma possível, tudo dê certo.
Então toda a bondade e gentileza compensarão.
Sim, sorria, e se sinta livre para errar acertando, novamente, pois o destino aleatório e a alegria sem graça da incerteza te acertarão, tão matematicamente certo quanto possível.

27.8.10

O erro me fez um homem melhor

Recentemente, entrei numa discussão que muita gente achou inútil. Outras pessoas, no entanto, gostaram tanto que acharam necessário que eu colocasse-as em evidência para outras pessoas pensarem a respeito.
Um ponto importante é que eu não me acho o dono da verdade, nem conhecedor pleno da Palavra de Deus. Mas sou um questionador, e como diria Gilberto, às vezes não consigo aguentar "qualquer sacanagem ser coisa normal". E foi com um espírito de questionador que julguei o texto no link http://sexxxchurch.com/home/guarde-seu-coracao/, e numa exposição de idéias entre amigos, por e-mail, o rebati com o texto que vocês lerão a seguir:



Sou a antítese do que o texto sugere que seja um homem, e não falo isso por orgulho ou presunção, apenas porque fui criado assim. Meus pais são casados a mais de 26 anos, e apesar da idade avançada, são apaixonados até hoje. Apaixonados a ponto de viajarem sozinhos, dançarem sem música e se beijarem calorosamente, para horror dos filhos. Isso se deve ao respeito com que meu pai trata minha mãe, e vice-versa. Nenhum relacionamento dá certo sem esse sentimento de companheirismo, e isso foi o que eles me ensinaram, e no que eu acredito, por ter um ótimo exemplo funcional.
Outra coisa que meu pai ensinou a mim e a meu irmão é que devemos respeitar as garotas, e nos respeitar. E uma coisa que minha mãe ensinou à minha irmã é respeitar aos garotos, e se respeitar.
Entenda que se respeitar discerne a ação do outro até saber o que torna a coisa prejudicial ou não para sí mesmo. INDEPENDENTE dos sexo de quem estamos falando.
Um cafajeste transvestido de poeta pode oferecer uma flor querendo outro tipo de prenda. Uma vagabunda pode fazer cara de santinha, vestir roupa de crente e ler a bíblia até dar a famosa chave-de-perna no idiota que é alvo de sua malícia.
E eu tenho um exemplo para cada caso, vindo direto de meus pais. Não vou entrar em detalhes para preservá-los, e conto que vocês interpretem minhas palavras como verdadeiras.

Quanto a mim, sou virgem. Não tenho vergonha de falar, quem está próximo de mim sabe, e eu acho bom usar isso como exemplo dessa luta que tomo como minha, a da valorização do sexo masculino, que é tido como "irremediavelmente promíscuo" pela opinião geral. Sou um homem solteiro de 24 anos, e virgem, que não precisa ficar olhando para a bunda das garotas com quem cruzo na rua, e que sabe tratar mulheres como amigas, respeitando particularidades, mas exigindo respeito em volta. NÃO me julgo especial por isso, apenas sei que meu comportamento normal e aceitável deveria ser tomado como uma regra, e não exceção.
Sempre agí na base do respeito, exigindo e tentando oferecer ao máximo. Sempre procuro, em meus relacionamentos, ser transparente e sincero.

Mas, novamente, por exemplos pessoais, já ví um sem-número de casos de casamento "regrados" dentro da igreja que terminaram mal. Não se iludam, eles seguiram cada "regrinha" basica dos relacionamentos cristãos. Conhecí um casal que praticou a chamada corte, com flores, bombons, declarações santas de "quando o dia chegasse", e que acabou em espancamento e uma série de estupros. Isso aconteceu, porque eles não se conheciam. E não digo que não se conheciam em suas qualidades, mas não se conheciam em seus erros. Eles não se permitiram ser transparentes o suficiente no namoro, no prenúncio do casamento, a ponto de cada um saber até onde começa o lado feio da criatura ao lado. Todas aquelas regras cooperaram para um fim trágico. Continuam casados, inclusive, e ambos infelizes.
Estou falando sério, coisas parecidas acontecem em famílias de pessoas que são até próximas a nós, e não atentamos a isso! Casamentos perfeitos vindo de regras sistemáticas que acabam em lágrimas. Isso é muito, muito frequente.

Sim, eu já errei bastante, e me frustrei. Mas isso acontece porque arrisco. Tenho amigos que até hoje repudiam a aproximação do sexo oposto. Uma amiga minha chora frequentemente porque tem mais de 27 anos, quer casar, mas não tem nem namorado, e reclama que o jeito dela assusta os outros garotos.
Não vou negar, é verdade. Ela construiu um padrão tão alto de caráter para alguém que queira namorá-la, que eu julgo impossível ela achar isso. A não ser que namore o próprio Jesus Cristo. Ela constrói barreiras, coloca limites sem motivo e se decepciona por atitudes isoladas. Se ela não mudar de atitude, vai continuar sozinha e culpando todos os garotos de serem muito moles, dizendo que é obrigação deles conquistá-la. Ela, com todas essas regras, se coloca como prêmio. Não se permite ser feliz e conquistar o que quer, só porque disseram que assim age uma garota de caráter. Se isso não se chama machismo, não sei mais o que é.

Agora, levante a mão quem conhece uma mulher assim.
O mundo está apinhado delas.

Como eu disse, já me frustrei bastante. E tenho descoberto outros caras de igual sensibilidade, tato e respeito, que já se frustraram com a mulherada. Casos de caras que foram constantemente traídos, seduzidos e abandonados, caras que levaram a sério compromissos à distância para se verem usados em joguinhos particulares não são raros, nem dentro da 3P! Mas não é por causa disso que se decepcionam e dizem que vão parar de tentar, e não é por conta disso que se fecham. Você não vai encontrar sugestões para os garotos "guardarem os corações". Mesmo porque, se já é difícil encontrarmos uma garota disposta a ver o que é bom em nós antes de nos tomar como um búfalo procriador cheio de libido, imagina se seguíssemos os mesmos conselhos dados às garotas: se isolar, se resguardar, evitar andar perto de pessoas do sexo oposto. Aí que essa minha amiga NUNCA vai se casar mesmo.

A vida é arriscar, galera. Ninguém ganha nada se escondendo, e tendo medo das sombras que são projetadas na parede. São só sombras. É claro que precisamos descobrir, conhecer e impor limites. Mas se guardar nunca fez ninguém feliz, MUITO pelo contrário.

Eu posso ver todas essas marcas no meu coração, que já foi muito ferido. Mas acredito que vou encontrar quem o tome com carinho e trate cada cicatriz, cada trauma e medo com respeito, amor e liberdade; sem pressão, só porque me ama. E eu quero fazer o mesmo pela pessoa. Não quero encontrar uma princesa de cristal que nunca viveu nada na vida, super delicada a qualquer intemperança, que não sabe dizer não, que não conhece os próprios desejos e nem os próprios limites. Desde já posso dizer que valeu a pena cada tombo e cada tropicão. Isso me fez um homem mais maduro, responsável e sincero. O erro me fez um homem melhor.

Coisas pequenas. Coisas simples.

Quando eu viajei para aqui do lado, foi o que me chamou a atenção. Eram só 600km, quase uma reta, e eu estava lá, no topo do Morro do Borel, no Rio de Janeiro.
Depois de dois dias de discussões e pressões de como haveria de ser feito um evangelismo intencional, de desfiles de maquinário militar na posse de traficantes em motos, de ensaios exaustivos de peças sistemáticas de pantomimas quase entediantes, de agitação popular pela suposta morte do gerente da boca, de julgamento e análise de caráter dos dois lados da trincheira da salvação, o caveirão subiu, metendo bala em meliantes e o que tivesse o azar de estar na frente, salvo ou não. De forma que as pessoas agiram como num estouro de manada. Correria, pânico, histeria. Invocou-se o nome de Deus e outros tantos chulos, e todos se esconderam em lugares supostamente seguros enquanto os tiros cortavam o ar.
Mas nenhum desses eventos me impressionou. Talvez porque a gente viva numa realidade muito violenta, você sugira, e eu tendo a concordar. Mesmo não sabendo o motivo concreto disso, não fiquei apavorado como a maioria das pessoas, orando por Deus fervorosamente contra um fim tão trágico como o de ser atravessado por tiros de fuzil. Na verdade, de uma certa forma, eu até achei engraçado. Nada que não tenha visto anteriormente em algum filme de ação, eu diria.
Fiquei impressionado, aí é verdade, no dia seguinte. Depois de muitas piadas sobre o comportamento deplorável de uns e de outros diante do poder bélico da Tropa de Elite carioca, pusemos em prática o plano de escalada do morro, passando por quadras, vielas, ruas serpenteantes que entravam como túneis embaixo de casas, naquela típica paisagem de escadas de lajes contra o céu azul da Guanabara. E foi quando encontrei, no meio da caminhada, uma bola de gude a alguns centímetros de uma cápsula deflagrada de 9 mm. Esse símbolo foi mais forte que qualquer explosão, flash de luz ou tiro. Gritou mais alto que qualquer pregador de rua com uma bíblia na mão e algumas veias saltando no pescoço. Correu mais rápido que o sangue escorrendo em laje batida ou dentro de viatura de polícia. Até hoje os guardo como espólios de guerra, como uma mensagem que não posso esquecer: A bola de gude e a cápsula.
Assim é tudo que é pequeno e simples. Uma lasca de pedra, uma marca de perfume, uma referência gramatical. Qualquer informação perdida nesse mundo de símbolos é muito mais poderosa que milhares de palavras e promessas enfáticas.
Pergunte ao apaixonado, se de todas as coisas mais marcantes na memória não estão as mais simples: a cor dos olhos ou o barulho que o ser amado faz quando rí.
Pergunte a quem está de luto se a memória mais dolorida não é exatamente aquela que é menor dentre todas: o apelido secreto, o dia em que perdeu as chaves na privada, a maneira que enxugava a mão na roupa.

Giro um pedaço pequendo de mármore na mão e sorrio. Não deve ter mais de dez gramas, é branco, irregular e sem marcas, e é uma lembrança de um dia que matei aula para ouvir piadas e histórias dentro de uma cafeteria. Absolutamente rotineiro. Gigantesco, único e maravilhoso pedaço de mármore. Mais poderoso que uma história, mais real que uma fotografia, mais completo do que qualquer palavra a respeito.

23.8.10

Sobre crescer

De todas as experiências, acredito que a mais assustadora seja "o amadurecer". Quando o humano, tal qual um broto de uma folha aleatória, desabrocha num sentido superior de ser, em sí completo e auto-sustentável.
Mas esse papo dá medo. Alguma parte de nosso subconsciente, devastada de pavor, se agarra à qualquer resquício de infantilidade antes de ser totalmente varrida para as portas de nosso limbo mental.
E é aí que a coisa entorta.
Admito minha imaturidade, e admito que ando às turras com minha consciência pesada. Mas eu preciso crescer.
Onde fica o interruptor para parar essa roda gigante?

Quero descer!

1.8.10

Prática e teoria


Eu tenho um sério problema com "igrejas".
E para complicar, participo de duas. Com doutrinas completamente diferentes.
Recentemente um dos pastores entoou uma crítica direta à linha teológica da outra igreja que frequento, em um sermão que elogiava e justificava a "instituição igreja", e toda organização administrativa que ele julga necessária para subsistência da mesma.
Tudo pura teoria.
Nesse dia, havia chegado cedo, e estava em meu canto com O Nome do Vento aberto, absorto na leitura, quando um "membro" da "igreja" me abordou, com todo aquele carinho sistemático misturado com uma ironia santarrona, que crentes são tão bons em entoar:
- Ei, irmão! A quanto tempo! Eu estava com saudade! Porque você anda sumido? - Falou, enquanto pousava a mão no meu ombro.
O pior é que essa figura nem da minha "igreja" era. Eu o ví uma vez, se tanto, num passeio que fiz com amigos, e se não fui hostil com esse cara desde que nos conhecemos é porque tive uma ótima educação por parte de meus pais. Mas deixo aqui registrado que para mim ele é um tremendo babaca intolerante, ignorante e arrogante que sempre acha que está certo, que nunca desmonta da pose de superioridade e santidade.
Odeio gente assim. Sim, odeio, porque sou humano, e até que o Espírito Santo concerte esse meu sentimento em relação a ele, será assim que eu me sentirei.
Engolindo minha vontade de dar uma resposta engraçadinha para rebater a ironia, só respondi:
- Eu não sumo. Não tenho esses poderes. Quem quer me achar, me acha. - Sorrí e me ajeitei na cadeira, para tentar deixar claro que ele não tinha a permissão de me tocar.
- Ah, mas a gente sente sua falta! Sabe que eu te amo, né?

Amor.

Está aí a defesa da maior parte dos pregadores do "ir à igreja é agradar a Deus". Dizem que as comunidades são antros de amor, onde nos servimos mutualmente, em comunhão. Na prática, a teoria é outra, como diria meu avô.
Olhei nos olhos do rapaz e disse:
- Relaxa, velho. Eu estou bem. - O que eu queria mesmo era acabar com o assunto hipócrita e infinitamente intrometido. Eu nunca dei a oportunidade para aquele cara opinar na minha vida, e não daria agora.
Sorrí e comprimentei o outro rapaz que o acompanhava. Por esse sim eu nutria alguma simpatia. Ele retribuiu o sorriso e comprimento, e por fim me deixaram em paz para terminar de ler. Não antes de tentar me tirar do meu lugar, afim de me arrastar junto para fazer alguma dessas coisas tremendamente chatas que pessoas como ele costumam fazer.
Naquela noite, durante o culto, pesei o que o pregador dizia. Apesar de todos meus defeitos, sei que nem sempre estou certo, e é bem verdade que muitos dos meus traumas vieram de feridas. E muitas, por minha responsabilidade, também. Quando ele bateu o martelo e pediu para que viesse à frente quem já se viu ferido por homens, e por isso sente dificuldade de "participar" da "vida de uma igreja", eu fui. Porque é assim que eu sou. Ele, pessoalmente, orou por mim, mas, obviamente, uma oração não foi o suficiente para responder todas as minhas perguntas. Orações raramente respondem perguntas. Tanto que o procurei no fim do culto, perguntando se ele tinha um tempo para conversar comigo durante a semana. Deixei aberto para ele o dia e a hora, que me garantiu estar totalmente livre, mas que ligaria sem falta para marcar.
Passou-se duas semanas, e ainda estou esperando.
Sexta eu participei de um culto de envio de dois amigos próximos para Guiné-Bissau. Eles ficarão lá por um ano, em missão, no meio de um povo onde o evangelho não é bem aceito. Esse tipo de coisa extrema me faz lembrar que a igreja, na prática, ainda está viva (note que dessa vez não usei as aspas). Lá encontrei o mesmo rapaz que eu falei agora a pouco, me abraçando, me chamando de amigo e perguntando onde eu estava no fim de semana passado. Ele não sabe meu sobrenome, não conhece o nome da minha mãe, nunca comeu comigo na mesma mesa, nem sabe que tipo de comida eu prefiro. Ele nunca me viu chorar, não sabe no que trabalho, nem quanto eu tenho no banco. Não ficou irritado comigo quando começo a ficar chato dessa maneira que só eu sei ficar, nem riu comigo de minhas piadas histéricas. Nunca me viu beber demais, nem xingar os malditos burgueses capitalistas. Ele nunca me viu escrever, nem sabe se eu gosto de poesia ou de videogame. Ele só me viu uma vez na vida, mas se julga no direito de exigir:
- Quero te ver aqui domingo, heim?
Ao sair da despedida, fiz uma coisa totalmente nova:
Fui para uma balada.
Eu crescí como uma criança cheia de traumas e medos. Minha adolescência se desenvolveu mergulhada em videogames e sites da internet; de forma que nunca fiz as besteiras que todo mundo faz, coisas que são tão severamente agredidas pela "instituição igreja". Mas se eu for sincero, direi que na verdade nunca arrisquei. Nunca ousei. Nunca fui além do que me permitiram. Além do "puro e verdadeiro". Isso não se deve à minha devoção à verdade bíblica ou um sentimento sincero dessa coisa que todo mundo chama de "santidade". Eu simplesmente sou assim. Travado.
Na Augusta, encontrei duas pessoas admiráveis. Eles sabem beber, falar palavrão, fazer piada um com o outro, rir e dançar - ou não dançar - sem preocupação. Nos divertimos a cada momento: A cada vez que um deles fingia tão dramaticamente que se aproximaria de alguma garota que dançava na pista, cujo plano não saía da intenção. Em cada vez que alguém dizia uma besteira enorme. Em cada vez que nos permitíamos ser humanos, falhos, e nos divertir com isso. Nessa balada, encontrei Deus me ensinando sobre a graça dEle mesmo no meio de uma batida eletrônica.
Lembrei que uma vez me disseram que a música eletrônica é cheia de mantras, que o diabo usa para atingir uma disposição mental nos jovens a ponto de faze-los manipuláveis, e rí alto. Na prática, quem manipula mentalmente é a própria "instituição igreja". E com meios muito mais subversivos.
No meio da balada, ví minha verdadeira igreja: Algumas almas quebradas se divertindo de verdade, pulando e dançando músicas seculares. Nos reunimos em volta de um bolo de aniversário, e cantamos parabéns. Ganhei um pedaço, sem conhecer muito bem o aniversariante. Fui servido por ele, que sorriu para mim. Ninguém me perguntou onde eu estava semana passada, mas perguntaram se me veriam domingo. Não havia sarcarsmo ou cobrança no assunto. Eles realmente só me queriam por perto.
Leve assim.
No meio da balada, descobrí uma verdadeira comunhão. Uma verdadeira igreja. Eu pude falar de medos e traumas, sem ter medo de ser retaliado. Compartilhamos o que sentíamos como irmãos, não como mestres e discípulos, não como pessoas afastadas da verdade que precisam ser doutrinadas. No meio da balada ouve respeito e tolerância. Ouve amor e companheirismo. No meio da balada houve verdadeira sintonia.
Peço perdão para você que prega que isso é herege e errado. O que conheço na prática tem muito mais peso que sua teoria. Em uma "instituição igreja" eu só conhecí lavagem cerebral, hipocrisia, mentira, arrogância, antropocentrismo, intolerância, mesquinhez, preconceito, indisposição para humor, cafonice e ignorância. E medo. Muito medo.
Eu conhecí o medo de errar, medo de falar o que penso, medo de agir como quero, medo de tentar o que desejo, medo de buscar o que preciso, medo de amar a quem gosto, medo de ser quem sou.
Não é à toa que 70% dos jovens que procuram a psicoterapia para tratamento vieram de igrejas cristãs. E a maioria avassaladora, evangélica.
Mas o perfeito amor lança fora todo medo.

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Enquanto eu escrevia esse post, recebí uma ligação. Era alguém para quem não passei meu numero de telefone, que se abalou em ir atrás e descobrir, para poder me ligar e falar comigo. Afinal, "quem quer me achar, me acha".
Ele é dessa igreja de desigrejados, que ama antes de cobrar. Perguntou quando me veria, e o porquê de eu não ter aparecido por lá domingo. Ele não me deu um abraço, nem falou que está com saudade e que me ama. De uma forma engraçada, não me sentí cobrado, mas amado.

São 22h30 da noite.
Até agora, aquele pastor não me ligou, mesmo que pessoalmente eu tenha passado o telefone correto. Um membro deslocado de uma comunidade maluca que frequenta baladas, sim.

Uma é uma "instituição". Outra é um "corpo".

Na prática, a teoria fica muito mais bonita.