21.5.13

Quanto é que dói?


Ela chorou porque cortou cebola, ele disse, surpreso porque chorava ao vê-la chorar. Posso suportar a cebola, mas não ver a garota que amo chorar. Ouvindo tal coisa, o outro riu, até que caiu, e chorou. Não era tristeza ou legumes, mas dor. O que era um absurdo para aquele tal que vivia na academia suportando os pesos no ferro, com o discurso que a dor é natural, e não havia lágrima para se derramar ao senti-la, mas descobriu-se com câncer. E chorou. Assim como chorou a estátua de pedra na frente do prédio onde foi internado, uma fonte deformada, gárgula esculpida sobre a piscina de carpas. Carpas choram o tempo todo. E também chorou o menino que deixou cair o pirulito dentro d'água. Chorou de alegria a mãe no reencontro, com um gosto de tristeza no fundo, e se alegrou até chorar novamente, na despedida. Chorou o bon vivant ao se ver sozinho em um apartamento mobiliado no centro da cidade, enquanto assistia um documentário em que uma criança africana, barriga do tamanho da lua, rifle na mão, conquistado ao matar os pais, chorava por ver negado o direito de se abraçar uma boneca. Chorou superman ao ver a kriptonita. Chorou o casal desfeito. Chorou o amigo perdido.
Então anjos confusos tramaram, rindo, destruir o mundo. Achavam escandaloso uma gente tão forte ser tão fraca.
Porque anjos queriam chorar.