28.3.11

Um conto pequeno e mesquinho

Era uma criaturazinha precoce, cheia de medos, que andava curvada sob o sol.
Chamaram-o de trevas, e se arrastava como que escondendo da luz. Não tinha amigos, e todos os outros, que eram mais altos e fortes, o pisavam para alcançar as coisas que queriam.
Ele se mantinha feliz simplesmente se mantendo longe de seus caminhos.
Mas um dia a luz refletiu em um espelho e o atingiu em seu coração negro, que brilhou de volta, e todo o mundo viu a vergonha, a humilhação, o medo e o trauma se iluminar por todo horizonte. As pessoas correram da aparente maldade daquele monstro escondido, mesmo sendo pequeno, mesmo sendo fraco.
E atingido em cheio por amor e essa revelação cósmica de que poderia ser grande, se tornou forte. Seus músculos romperam velhos tendões, e com dor sua alma se expandiu, rompendo barreiras de nervos, consciência e morais embotadas. Se retorcendo no chão, gritou de liberdade que aquela linda tortura o trazia, e escoando sua maldade num caldo oleoso, negro e sujo, tornou-se limpo. O sol queimava sua pele nua cheia de vergonha, e o tostava até formar bolhas, descamar e arder.
E o mundo o viu erguer, grande, bronzeado e belo. Ele chorava com o perdão que se dava, e mesmo humilhado, sentia-se feliz.
Porque brilhava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário